segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Bear

Todo mundo já teve pelo menos um. Faz parte do mundo infantil. Geralmente é ele que nos acompanha em nossos sonhos, nos abraça quando a porta faz um barulho estranho no escuro. É ele que fica com a bronca quando nosso pai não deixa dormir no meinho.

Algumas pessoas dão nomes legais e ficam com ele a vida inteira. Uma vez encontrei uma tagarela que chamava o seu de blue. É, ele era azul, e pequeno, e feiiiinho, mas tinha lá sua personalidade.

Engraçado ninguém nunca ter perguntado por que não tinha um ursinho ainda no blog. Nunca tive nenhum especial, não era apegado a objetos inanimados. A prova é que transformei todos eles em personagens, e personagens em objetos.

Tenho me sentido meio Benjamin Button. Dia desses me peguei sonhando acordado. Estava vestido de papai noel, com ele no colo, contando histórias. Sentado no sofá de casa respondendo infinitos porquês. Fantasiado de sapo na sua festinha de aniversário. Brigando com ele pra ficar mais tempo na cama elástica (sim, eu no brinquedo dele).

A borboleta fica mandando eu parar de pular. Veja que contradição. Vou mandar ela parar de voar.

Por falar... está tão linda. Acho que nem ela acreditava que podia ser tão bela. Conseguiu juntar de novo sonho e realidade, transformar minhas incertezas em idéias e me deu um ursinho que fala, tem nome e pede pra dormir no meinho.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Dona Lourdes

Vestia sua roupa mais bonita, sempre combinando. Pendurava suas jóias, passava uma alfazema e saía bem cedo rumo à “cidade”. Voltava ao final da tarde com uma sacola e algumas flores. Esse era seu ritual, principalmente em dias santos.

Poderia facilmente ter sido encontrada nas linhas autenticamente baianas de Jorge Amado. Foi adotada por uma família tradicional da Ladeira da Barra e casou-se aos 13 anos com um marinheiro de olhos azuis. Viveu por muito tempo no bairro da Cidade Nova, onde criou seus cinco filhos que vingaram. Foi uma das primeiras moradoras da Boca do Rio, desde quando ali só existia areia. Não votava, mas tinha uma simpatia pelo Antônio Carlos.

Sua alegria era contagiante. Contava dos seus tempos nos bailes de carnaval do Fantoches e Cruz Vermelha e, quando não mais existiam, era teimosamente encontrada no relógio de São Pedro esperando os trios passarem. Nunca se deixou ser reprimida por conta da idade, pois nunca teve a que achavam que tinha. Por conta própria mudou sua data de aniversário, para que fosse feriado. Quem ousa dizer que não é 7 de setembro?

Amava seus filhos, cada um de uma maneira peculiar. Uma mistura única de super proteção e autoridade. Tinha por seus netos um carinho sem igual, mas sem perder a batuta de quem era a matriarca de uma família tão grande. Seus bisnetos não tiveram a sorte da convivência, mas ouvirão muitas histórias suas, com certeza.

Assim, com um riso no canto da boca, vamos lembrando de quem foi Dona Lourdes. Deixará saudades, mas viveu tempo suficiente para nos ensinar como encontrar sempre um motivo para celebrar a vida.