segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Boneca de Pano

Brilhos dourados ou refrativos nunca puxaram para si os olhos castanhos do verde. Ao contrário, o opaco magnetiza suas atenções.

A teoria de John Forbes Nash, de que a segunda opção é quase um presente de bandeja, sempre foi bem apreciada. Até porque não há diferença que não seja a mera convenção social para a primeira. Sempre me identifiquei com o título daquele filme.

Há sim uma força interna maior no opaco, que necessita uma maior decupagem. Aí é certo de que a essência de um ser se revela.

Foi assim, na ânsia de enxergar além do opaco, através de olhinhos quase fechados, que se revelou aquela boneca de pano. A mais linda de todas, pois não havia a menor necessidade de frufrus e porcelanas polidas. Era daquele jeito mesmo, linda.

A beleza monocromática, de formas simples, tecidos simples, movimentos simples. Simples, e ainda assim completa, e que completa todas as freqüências tonais do sapo. Assim mesmo, sem pausa, pra tirar o fôlego.

Naquele caminho comum e bem conhecido, ali no próprio habitat do sapo, à trilha de bonecos de argila e suas listras. Onde mais poderia aparecer a simplicidade senão no lugar de sempre? Sem curvas ou cruzamentos, no máximo uma rotatória. Apenas coqueiros, estátua, uma rua em festa e um breve momento suficiente.

E no meio do caminho havia uma boneca de pano esperando de olhinhos fechados o momento de entrar no sonho do sapo.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Google Earth

Seguindo pela estrada...

Com o passar dos arbustos, casinhas de luz fraca, curvas, percebemos que não era aquele o caminho. A vida não tem GPS, nem auxílio do Google Earth no celular. Mas, à exceção do tempo perdido, na maioria das vezes dá pra voltar e seguir o curso planejado sem maiores prejuízos.

O difícil é quando você decide parar no posto pra comprar um fandangos, ou cede à vontade protomercadológica dos vendedores de tangerina na beira da estrada, ou, pior, pára pra visitar sua antiga cidade do interior, que está numa estradinha a poucos quilômetros desviando do seu intinerário.

Lembranças que adormeceram e deveriam permanecer num sono eterno. A caixa de pandora perde feio. A curiosidade tem um charme que ameniza os possíveis danos, mas a atitude presumidamente mentalmente suicida é digna de, como diria meu pai, uma surra de gato morto.

E agora? Voltar e seguir o roteiro?
Isso com certeza não vale como aprendizado.